terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O amor de Gurizinha


Hoje passei por uma das maiores angústias da minha vida. Vi a primeira história de amor do meu filho. Parece incrível? Você não acredita? Então espere aí que conto para vocês como isso aconteceu.
Estavamos sentados na frente do estacionamento do prédio, eu e ele brincando de carrinho na areia. Ele, comendo bala de goma, me contava detalhadamente seu dia. Que brincava com as crianças, que queria ir para a escolinha e que queria conhecer a casa do pai, a minha no caso, além de suas aventuras na praia.
No meio da conversa e da brincadeira, apareceram duas meninas, com seus cachorros na coleira.
Ele ficou encantado. Com os cachorros num primeiro momento. Começou a correr para lá e para cá atrás deles com as meninas.Gritava e pulava a cada vez que alcança os bichinhos, mesmo que ciente que eles correriam novamente. Eu, sentado na calçada, analisava aquela situação toda achando tudo muito engraçado. Até que começou a angústia maior. Uma das meninas, a maior, subiu na caçamba de uma camionete.
Ele, acho que encantado com a capacidade daquela menina de quase 5 anos de escalar tamanho desafio. Veio até mim, pediu ajuda para subir. Não deixei. Nem sabia de quem era o tal carro. Ele não gostou muito. Mas aceitou. Ficou debaixo da camionete gritando: "Me ajuda gurizinha?! Me ajuda!"
E Gurizinha não ajudou. Ficou ali, em cima da caçamba brincando com seu cachorro, talvez a pensar que realmente era superior por conseguir subir ali, talvez lembrando das vezes que tentou subir e ninguém a ajudou também. Não sei direito. Só sei que ela não falava nada. A outra menina, também não tinha altura suficiente para subir. Com seus quase quatro anos, ficou do lado de fora, sentada com seu cachorro. Ela desceu. Botou o cachorro no chão e seguiu brincando. Eu, pai encorajador, chamei ele e disse: "Pergunta o nome delas". Ele hesitou. Chegou a me dizer: "É gurizinha, pai!". Disse de novo: "Pergunta para ela assim: Qual teu nome?" Ele foi. Tomado de coragem perguntou. A gurizinha respondeu. "Letícia". Ele repetiu. A outra disse espontaneamente: O meu é Malu. Ele nem deu bola. Ali já estava definido: Ele queria Gurizinha. Foi brincar com o cachorro dela.Manu ficou triste, parada. Nesse momento minha angústia já era gigante. Queria dize-lo: Olha a outra menina quer brincar. Via a cegueira dele. Fiquei quieto. Normalmente também quero gurizinha. Nem sei se me dá bola, mas sempre que vejo o cachorrinho dela me derreto. Meu filho, meu filho, não desista de Gurizinha, mas preste atenção no que Malu pode te dar. Voltando para casa fiquei pensando: E quantas vezes eu já não fui que nem ele, ou quantas vezes não fiz como Gurizinha. Contudo, o difícil mesmo, é quando tenho que ser que nem Malu. Meu filho, meu filho, terás tempo suficiente para aprender isso, ou nunca aprenderás. E Gurizinha foi embora, imponente com seu cachorro.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Do barro ao riso



Tenho planos para a minha vida. Projeto bem desenhados prontos para serem desfeitos a qualquer momento. Hoje, de fato, estão prontos para serem desfeitos a qualquer momento. Na verdade, vejo que estou mais pronto para aceitar os desvios que a vida toma, e as surpresas que volta e meia insistem em me perseguir, e que volta e meia insisto em escrever.
Meia volta. Assim é minha vida hoje de fato. 180º total. Onde ontem era medo, hoje é o jogo de bola no pátio. Onde ontem era temor, hoje é brincadeira de carrinho. É o ir e vir que a gente tem que aceitar. São os olhos para frente, que não nos dão tempo de ficar olhando para trás. É quando os olhos miudos encontram o sorriso apertado. É quando quero mudar minha história novamente. Meia volta. O que ontem foi, passou. E o que de bom ficou é a amizade. E o que quero que venha, de bom, tem a amizade, tão difícil de atingir a sinceridade que só os puros tem. Me purifico a cada linha dita. E viajo a cada sorriso apertado. De fato, o fato é nem sei explicar direito a sensação de paz que sinto.
O problema todo nem é não tornar esse sonho realidade. O problema é tornar. E a minha sala suja de barro. Que crueldade. Que sonho. Que vontade. Ah sim. Vontade. A vontade de estar perto do sorriso só não é maior do que dos olhos. E a vontade que ultrapassa o dizer. E a vontade que ultrapassa a necessidade de alguma resposta. De todas afirmativas que alguém pode dar, a mais cruel é "não sei". Não responde nada, quando normalmente se quer todas as respostas. Pode brincar de barro. Essa é minha resposta!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Dos Km's!



Saúde. Quem dirá que existe razão nas coisas sem programação? E nessas coisas que vejo a graça. E nessas coisas que estão a moral e a certeza que nos metros ficam mais que solas de sapato. Dos quilômetros, ficam também a espera pelo conhecimento de vida. Nos quilômetros ficam a certeza que nada é tão por acaso assim.
Falar. E quando percebo que não há o que não falar, fico pensando insistentemente que deveria mesmo falar. Não que não tenha falado. Disse, mas não falei. E deixei para livre interpretação. E a livre interpretação torna fácil a vida de quem não quer interpretar. E deixa mais complicada ainda a situação de quem não diz. Caso que conheço.
Sentir. E quando o sentimento se mistura e já não se sabe mais quem é o que ou de onde veio. E quando percebo que um sentimento não anula o outro. De fato, demonstrar alguns sentimentos não é tão fácil como parece. Parece sim que nem sei o que sinto. O que de fato, não é fato. É só o que quero deixar parecer.
Quilômetros. E passo atrás de passo. Sim, passo-a-passo. Rumo a algum lugar que com certeza é bem melhor. E que definitivamente hoje sei, não tem a responsabilidade de ser absolutamente nada que não esteja sendo. Mais uma vez, termino cheio de coisas à falar. E mais uma vez não falo. Ainda tenho quilômetros intermináveis.

Sobre concorrências e licitações



Não sei quanto tempo eu aguentaria. Não sei, e nunca saberei mais. Metaforas são meu forte. Queria ser menos metafórico por vezes. Não consigo. Por isso esqueço que é preciso também falar. E acabo declarando pelas metaforas o que queria, de fato, dizer simplesmente, metaforas são meu forte, e como tal, deixam suas margens interpretativas.
Por isso hoje falo sobre concorrências. E também sobre licitações. Falarei sobre isso por uma razão muito simples. Cansei de leilões. Querer ser algo que nem sei se sou apenas para provarque realmente não sou o que eu sei que sou não faz mais parte do meu ser. Querer ser melhor, ah,isso nunca pararei de buscar. Mudar daquilo que de fato sou, isso não adianta.
Já vi camaleões mudarem e desvirarem-se em quatro ao deprazer do vento. Ser o mais santo dos pecadores me agradaria. Mas se quiser realmente isso, terei que lutar bravamente para que saber que a mudança que há de acontecer parte de mim. Tenho princípios. E tenho preceitos. E sei que não posso passar por cima de nenhum deles para nada. Mas também sei que não devo ser imutável e descrente nos princípios dos outros.
Não entro em leilões. Concorrência é parte natural da evolutiva escolha. Onde se analisa se é bom ou ruim. Se é aquilo realmente que se quer. E onde há de existir maturidade suficiente para entender se foi ou não apenas um momento. Concorremos todos os dias. Do nascer ao pôr-do-sol.
E entro em licitação para saber se é ou não momento. Se é algo? O que fica depois de uma licitação, seja a eterna admiração, tanto pela coragem de arriscar quanto pela coragem de escolher. Não entro em leilões, e nem brigas. Quero apenas saber, ainda dá tempo?

sábado, 2 de janeiro de 2010

Sobre ciclos e novas canções


Há um dia em que tudo se encerra. Você se acorda e pensa: Hoje é o último dia. No fim do dia você pode ter duas sensações: 'E agora?' ou 'que bom! que acabou'. Obviamente, saber que existe o fim desse ciclo exige maturidade suficiente para não deixar nem um nem outro se tornar problema, mas sim solução e impulso para desafios futuros.
E o mais desafiador do fim de um ciclo, é saber que a partir daquele momento teremos que encarar outros ciclos. E hoje, cada vez que vejo alguém que encerra um ciclo expressar o alívio da liberdade penso: Ainda bem que esse ciclo está encerrado. Afinal, ao andar muito tempo em um mesmo ciclo, pode acarretar num sofrimento incrível, pois pode-se andar em circulos sem conseguir sair do lugar.
Os ciclos podem nem ser de fato visíveis. Há momentos em que acordamos e pensamos: Hoje farei tudo diferente. A grande moral de completar esse ciclo é saber se ao final do dia conseguimos realmente modificar alguma coisa. E pensar se aquilo que falamos modificou o ontem de alguém. Sim, isso realmente é importante.
Por isso digo-lhe: Aproveite bem cada ciclo vivido. E entenda que uma hora eles encerrarão e essa é função deles. Não dê voltas e voltas em torno de ciclos que não te façam bem. Mas também, não descarte tão fácil ciclos que nem conheces. Entrar e sair de um é uma mera questão existencial. Inevitável, afinal, até aquele que está parado acaba entrando no ciclo vicioso do ócio.