
Hoje passei por uma das maiores angústias da minha vida. Vi a primeira história de amor do meu filho. Parece incrível? Você não acredita? Então espere aí que conto para vocês como isso aconteceu.
Estavamos sentados na frente do estacionamento do prédio, eu e ele brincando de carrinho na areia. Ele, comendo bala de goma, me contava detalhadamente seu dia. Que brincava com as crianças, que queria ir para a escolinha e que queria conhecer a casa do pai, a minha no caso, além de suas aventuras na praia.
No meio da conversa e da brincadeira, apareceram duas meninas, com seus cachorros na coleira.
Ele ficou encantado. Com os cachorros num primeiro momento. Começou a correr para lá e para cá atrás deles com as meninas.Gritava e pulava a cada vez que alcança os bichinhos, mesmo que ciente que eles correriam novamente. Eu, sentado na calçada, analisava aquela situação toda achando tudo muito engraçado. Até que começou a angústia maior. Uma das meninas, a maior, subiu na caçamba de uma camionete.
Ele, acho que encantado com a capacidade daquela menina de quase 5 anos de escalar tamanho desafio. Veio até mim, pediu ajuda para subir. Não deixei. Nem sabia de quem era o tal carro. Ele não gostou muito. Mas aceitou. Ficou debaixo da camionete gritando: "Me ajuda gurizinha?! Me ajuda!"
E Gurizinha não ajudou. Ficou ali, em cima da caçamba brincando com seu cachorro, talvez a pensar que realmente era superior por conseguir subir ali, talvez lembrando das vezes que tentou subir e ninguém a ajudou também. Não sei direito. Só sei que ela não falava nada. A outra menina, também não tinha altura suficiente para subir. Com seus quase quatro anos, ficou do lado de fora, sentada com seu cachorro. Ela desceu. Botou o cachorro no chão e seguiu brincando. Eu, pai encorajador, chamei ele e disse: "Pergunta o nome delas". Ele hesitou. Chegou a me dizer: "É gurizinha, pai!". Disse de novo: "Pergunta para ela assim: Qual teu nome?" Ele foi. Tomado de coragem perguntou. A gurizinha respondeu. "Letícia". Ele repetiu. A outra disse espontaneamente: O meu é Malu. Ele nem deu bola. Ali já estava definido: Ele queria Gurizinha. Foi brincar com o cachorro dela.Manu ficou triste, parada. Nesse momento minha angústia já era gigante. Queria dize-lo: Olha a outra menina quer brincar. Via a cegueira dele. Fiquei quieto. Normalmente também quero gurizinha. Nem sei se me dá bola, mas sempre que vejo o cachorrinho dela me derreto. Meu filho, meu filho, não desista de Gurizinha, mas preste atenção no que Malu pode te dar. Voltando para casa fiquei pensando: E quantas vezes eu já não fui que nem ele, ou quantas vezes não fiz como Gurizinha. Contudo, o difícil mesmo, é quando tenho que ser que nem Malu. Meu filho, meu filho, terás tempo suficiente para aprender isso, ou nunca aprenderás. E Gurizinha foi embora, imponente com seu cachorro.