
Existe alguns lugares em que definitivamente eu não sei o que fazer. Um desses, certamente, é o elevador. É o lugar onde os carentes querem assunto. Praticamente é uma central de meteorologia. E pra esse tipo de assunto eu não tenho paciência alguma. Por isso já subo de fone de ouvido, para não precisar mostrar meu lado Cléo Kuhn.
Pois hoje vou compartilhar uma situação inusitada que aconteceu. Estava eu, como de praxe, voltando do almoço, caindo de sono, quando entram no elevador mais três pessoas. Eu, de camisa de botão, calça engomada, sapato de bico largo, bem engraxado e só não usava gel no cabelo por falta deles.
Ao meu lado, uma jovem, cabelos longos, negros, olhos castanhos, mais ou menos 1,58m, que se tornavam 1,65 diante de tal salto. A frente, uma loira, cabelos cacheados, decote profundo, daqueles que dificultam qualquer concentração, sapato de bico fino. A frente, a figura mais inusitada. O tatuador.
Diferente da padronização dos demais, estava de bermuda e de regata. Nas orelhas alargadores maiores que um rolo de durex. Cabelo raspado, mas que ao final, fica comprido, indo até o meio das costas. Fora ter metade do rosto tatuado. Não sei bem se era a vontade dele, mas chamou a atenção. Me fez sentir inútil por passar meia hora passando a camisa e engomando a calça.
Naquele silêncio do elevador, surgiram várias perguntas com os olhos. Sem nenhuma palavra, o diálogo entre os quatro era tão evidente que na saída todos se despediram. Me perguntei, em algum momento, se não seria eu feliz de bermuda e regata. O alargador dispenso. Mas parece-me que quanto mais padronizado o mundo fica, mais nítido fica que todos querem o diferencial.
Fui trabalhar. Padronizado. Na forma de atender o telefone, na forma de me sentar, na forma de escrever emails, quase que automaticamente. Dali por diante, não consegui mais trabalhar direito. É necessário quebrar paradigmas. É preciso chamar atenção por aquilo que se é, e não mais por aquilo que se espera de nós. E como fazer isso? Definitivamente não sei. Só sei que, naquele maldito elevador, poderia ter alguém a perguntar: 'Será que chove?' Me sentiria muito melhor.
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